plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

Sobre o seu aniversário
Juliana Petermann 
Professora universitária

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Na última semana, foi seu aniversário. Antes que eu precise me desculpar por estar atrasada nas felicitações, quero dizer que no dia 17 eu pensei muito em ti. Lembrei que eu tinha 18 anos quando cheguei. Vim em busca daquilo que propagandeavam na minha pequena cidade: Santa Maria tem as melhores escolas estaduais. Cheguei para concluir o antigo segundo grau e ir me preparando para entrar na universidade. Não em qualquer universidade. Mas na universidade que carrega o seu nome: a Universidade Federal de Santa Maria. Acho chique ter seu nome lá, Dona Santa Maria. Quero te contar que eu, assim como milhares de jovens, deixei a casa dos meus pais para ser acolhida por ti. E eu tenho um agradecimento gigante no meu peito e quero comemorar os braços sempre abertos que você tem. Quero festejar o abrigo que é você para jovens que deixam o aconchego da família para dar os primeiros passos a sós no mundo.

SEU PRESENTE SANTA MARIA

No dia do teu aniversário, mesmo com o feriado, eu sentei para me preparar para outro evento: o início das aulas na UFSM. Normalmente, teu aniversário não coincide com esse início mas, neste ano, pela complexidade dos tempos, foi assim. Eu vi beleza nessa coincidência porque assim, pelo menos, fica mais evidente o presente que você recebe todos os anos, minha querida Santa Maria. Mesmo com seus 163 anos, a senhora está muito bem conservada. Você se areja com o vento que descabela e acompanha o ritmo da juventude que passa a te chamar de lar. Suas descidas e subidas, são retrato da inconstância típica de quem tem uma vida inteira para experimentar e lindamente acertar e errar.

ATRASO  NA ENTREGA

Mas também pela dureza dos tempos, neste ano, seu presente, encomendado, garantido, não pode chegar. São milhares de jovens que não veem a hora de te fazer de morada. Você precisa ver como o olho brilha quando falam de ti. Pude perceber isso mesmo através da tela do computador. Eu falei sobre tua beleza e sobre a beleza do campus. Eu ouvi sobre a vontade que cada estudante sente de estar aqui. Por enquanto, estão espalhados pelo país inteiro, mas tão logo seja possível, aportarão nos teus montes, Santa Maria. Quero te pedir: receba bem essa juventude. Faça com que sintam que você é a nova casa. Cuide de quem te revigora, ofereça segurança, transporte, acolhimento, oportunidades. Abra suas portas, aproveite-se da força e da criatividade da juventude. Desfrute do seu presente e faça dele o seu futuro.

Com todo respeito
Eni Celidonio
Professora universitária

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Eu sempre me perguntei a importância de se tentar aprender algumas coisas na escola. Eu digo tentar porque, lá no fundo, tem coisas que a agente estuda pra passar e terminar logo essa desgraça. Não concorda? Tem todo o direito de não concordar. Mas é assim que penso. E eu explico...

INDAGAÇÕES

Quando eu elaborava as questões de Literatura da UFSM, do vestibular e do PEIES, eu sempre me perguntava o que alguém que ia cursar Medicina tinha que saber o que era um narrador onisciente ou uma analepse. Imagina alguém chegar no consultório médico e explicar: "Doutor, não sei o que tenho, mas estou morrendo de dor na minha analepse"! Se acreditarmos que só quem conhece Teoria da Literatura é capaz de ler um romance, estamos perdidos: engenheiros não sabem ler, dentistas também não. É isso? Se é, como explicar meu colega Agnaldo Medici Severino, que é da Física e não só um leitor que passeia pelos bosques dos escritores de quase todas as nacionalidades, como também responsável pelo Blog Livros que Li? Sério, não fecha.

Eu me lembro do professor Zacarias Batalha, de Latim, lá no terceiro ano ginasial que, logo no primeiro dia de aula, perguntou: "algum de vocês sabe por que o aumentativo de amável é amabilíssimo, se o que temos é um VÊ que vira BÊ sem explicação"? Silêncio. "Por que é panificadora e não pãoficadora? Por que idosos tem senilidade? Coisas de crianças estão ligadas à puericultura"? Ouvia-se um mosquito rondando o ambiente, tal era o silêncio na sala. Em seguida, ele começava a explicar que o aumentativo de amável recebe um "b" porque em latim, o adjetivo é amabilis; que se fala panificadora porque em latim, pão é panis; que idoso em latim é senix e que infantil/criança em latim é puer. Vocês estão no Curso de Humanas e precisam saber a razão de se usar tantos termos que se originaram no Latim. Fazia sentido, e tudo menos Matemática, Física e Química!

Vejam bem, não estou dizendo com isso que as disciplinas das Humanas são melhores e que as Exatas não sejam importantes! De jeito nenhum! O que eu estou dizendo é que as competências são diferentes. Se eu tivesse feito o Científico, eu estaria até hoje no Colégio Pedro II, sentadinha, prestando atenção à aula para aprender o inapreensível. Sério, vocês até podem me perguntar como eu sei até hoje os seis casos e as cinco declinações do latim e não consigo guardar fórmulas de Química. Eu respondo: não sei, só sei que até tentei aprender, mas me senti uma anta olhando um notebook.

Mas nessa pandemia, em casa trancada, eu vi que poderia haver uma explicação para a minha total incompetência para aprender exatas: um professor falava, na TV Cultura, da necessidade de se aprender matemática, que todos deveriam saber, afinal, ela serve para tudo! E deu um exemplo: "Imagina se você quer saber o tamanho de uma montanha, como você vai medir, se não conhece Trigonometria?

Pronto, está explicado! Sabem quando eu vou querer saber a altura de uma montanha? Nunca! Ahhhh, como eu te entendo, Maomé!

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